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Estratégia: política do
silêncio e corporativismo prevalecem em Roma e protegem o
clero delinqüente |
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Gina Marques, de Roma
O Vaticano se
diz inflexível com padres pedófilos, mas age com demasiada
prudência: acredita que eles possam se arrepender e obter o perdão
divino. Por isso, é muito difícil imaginar um sacerdote acusado de
pedofilia sentado no banco dos réus de um tribunal da Santa Sé.
Compete ao episcopado nacional agir, comunicando passo a passo o
caso e consultando as autoridades da Santa Sé antes de tomar
qualquer decisão de expulsar o padre, bispo ou diácono pedófilo. O
Vaticano recomenda que o religioso acusado seja transferido a um
instituto religioso ou convento, enquanto aguarda o veredicto final
da justiça civil. Caso seja culpado, poderá ser suspenso do
ministério.
Apesar de a Igreja habitualmente escolher o silêncio, um padre
italiano rema contra a corrente: dom Fortunato Di Noto, 43 anos, da
paróquia de Avola, Siracusa, na Sicília. Sua batalha contra os
pedófilos começou há 15 anos, quando viu fotos de crianças e bebês
violentados e decidiu que tinha que fazer algo para prevenir e
combater este crime.
Dom Fortunato já teve que lidar com diversos casos de sacerdotes
pedófilos: “É um drama, porque a figura do sacerdote, como a de
qualquer outro educador, é um ponto de referência para as crianças.
Isso deixa feridas permanentes. É um crime contra a humanidade,
porque a criança representa o futuro da humanidade. O criminoso deve
ser punido com a prisão, mas também deve ser reeducado para que não
volte a cometer o crime”, disse o padre a ISTOÉ. O padre explica
que, nos episódios comprovados de pedofilia, na maioria das vezes é
o próprio padre quem tem a iniciativa de deixar o sacerdócio: “No
fundo, o sacerdote tem uma consciência e sensibilidade maior na
leitura dos fatos. Talvez porque se confronta sempre com a palavra
de Deus. Muitas vezes eles não agüentam a vergonha e deixam o
sacerdócio”, diz. “O silencio é prudente porque muitas vezes o bispo
não está preparado para enfrentar um caso destes. É como se um
marido telefonasse para a própria esposa para lhe dizer que
descobriu que o irmão dela é pedófilo. Como reagiria esta mulher?
Portanto, o bispo fica confuso e não sabe como reagir imediatamente.
Não é um desejo de encobrir a verdade e sim um silêncio reflexivo
para saber como agir”, defende dom Fortunato.
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