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“A quantidade de crianças que sofrem abusos sexuais por parte
de religiosos poderia ser bem menor se a Igreja não protegesse
o agressor”, afirma o advogado Evandro Coutinho, de Anápolis
(GO). A tese do advogado que representa duas crianças vítimas
do padre Tarcísio é endossada por membros da própria Igreja
Católica. “Nesses casos, prevalece a lei do silêncio”, explica
o padre Luiz Feracine. A experiência do padre Luiz reflete bem
a postura da Igreja quando o assunto é proteger a instituição.
Padre há 50 anos, mestre em filosofia pela Universidade de Roma,
doutor em direito civil pelo Vaticano entre outros cursos, que
lhe renderam a indicação para juiz do Tribunal Eclesiástico
do Vaticano em Mato Grosso do Sul – órgão da Igreja responsável
pela investigação de crimes e punição interna de seus membros
–, Luiz Feracine foi afastado de suas funções por defender um
ex-menino de rua que acusa o bispo de Jardim, em Mato Grosso
do Sul, Bruno Pedron, de abuso sexual. No decreto de seu afastamento,
a Arquidiocese de Campo Grande justifica o ato: “Grave escândalo
e dano ao povo de Deus.” Tudo isso porque Feracine não evitou
que o crime se tornasse público.
Segundo o Direito Canônico, casos de abuso sexual cometidos por
religiosos são considerados apenas pecado e com base nisso a Igreja
não denuncia os transgressores. “São recursos para evitar o
escândalo”, conta Feracine. O espanhol Pepe Rodríguez, um dos
maiores pesquisadores do tema, autor do livro Pederastia na
Igreja Católica, afirma que, para encobrir os escândalos, a
hierarquia da Igreja Católica utiliza-se de um “decálogo básico
universal” que protege esses religiosos.
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